327 – Respeito ao trabalho voluntário
Recebi hoje uma notícia em um veículo de comunicação local (na cidade da escola), onde abria inscrições para trabalho voluntário dos alunos.
Sempre que aparecem notícias assim, acesso para ler e verificar se a notícia é boa ou é só mais um levante falso.
Abri o link e a matéria em primeiro lugar enaltece a história da escola e lá pelo terceiro parágrafo, o jornalista lembra o porquê estamos aqui e convida aos alunos e ex-alunos da determinada escola a se inscreverem no portal para participar de ações voluntárias.
Até aqui interessante, principalmente por convidar ex-alunos, eu gostei.
Mas parou por aí a inovação. Abri o link e o formulário de inscrições, em primeiro lugar o trabalho seria desenvolvido em horário escolar, ou seja, no horário que o aluno estiver na escola, portanto pouco provável conseguir uma participação expressiva de que já saiu do colégio. Sendo uma convocatória para alunos do ensino médio, quer dizer que os ex-alunos, ou trocaram de colégio ou estão cursando o curso superior ou trabalhando e estudando.
O período é de 2 a 4 horas por semana, quer dizer que irão perder o tempo letivo de 2 a 4 horas de aula por semana, acho difícil, principalmente se o objetivo dos alunos é ir para uma universidade.
Mas o pior não passou, na minha visão, as atividades eram basicamente ou pedir ou incentivo a doação de recursos ou produtos para uma organização social, que não foi apresentada e nem citada no formulário ou na matéria.
Não sou contra as doações, mas por que quando se pensa em trabalho voluntário se pensa em vamos fazer ou pedir doações? Pode até acontecer e ser uma das atividades, mas é tão comum que as pessoas já ligam quase que imediatamente o trabalho voluntário a pedir algo ou doar.
Sim é uma doação, mas de tempo, não necessariamente de produtos ou dinheiro.
Esse é um dos fatores que afastam os interessados em ser voluntários, pois muitos gestores de organizações vêm cifrão na frente do título voluntário.
Para se criar uma cultura positiva do voluntariado é necessário ver o voluntário como um atendido e depois de aclimatado, como uma ferramenta de desenvolvimento da organização e depois de algum tempo de relacionamento pode vir a ser um doador, mas por livre e espontânea vontade.
A educação, muito depreciada por décadas em nosso país, tanto a publica como privada, sofrem por rumos sombrios, mas ainda é a responsável pela formação intelectual e ferramental de nossas crianças e jovens e o voluntariado é uma grande ferramenta de desenvolvimento pessoal e social, assim como cada vez mais o profissional.
A educação é um dos caminhos importantes para servir de difusor do trabalho voluntário, mas também pode servir de inibidor, quando trata o voluntariado da forma descrita acima.
Se faz necessário uma formação para os professores e coordenadores de escolas públicas e privadas, no que diz respeito ao trabalho voluntário. Ficaria alegre se esta história fosse única, mas sei que a realidade é bem pior do que conseguimos ver e conhecer.
O voluntariado pode transformar o mundo, mas para isso nós temos que transformar o voluntariado antes e fazer um resgate de suas raízes.
Roberto Ravagnani é palestrante, jornalista (MTB 0084753/SP), radialista (DRT 22.201), Consultor especialista em voluntariado, ESG e responsabilidade social empresarial. Voluntário palhaço hospitalar, Conselheiro Diretor da Rede Filantropia, CEO da empresa de consultoria R. R. Desenvolvimento e Transformação Humana LTDA e do VOL, porta voz pela ONU, Associado da VRS Consult da Guatemala, prof. de Voluntariado da PADLA University- México e Único Brasileiro Consultor acreditado internacionalmente por Empresability . @roberto.ravagnani